miércoles, 9 de junio de 2010

“Eis-me aqui, envia-me”


Hace exactamente tres meses que Luiza llegó a Fortaleza para trabajar como psicóloga en el Hogar santa Mónica. Después de este tiempo quiere compartir con todos nosotros su experiencia y sus sueños. 

“Eis-me aqui, envia-me”... (Is 6:8)

Tem muitas frases que amo na vida e as amo porque as vivencio. Entre as que mais gosto estão duas que as fiz como lema das minhas vivências... “Eis-me aqui envia-me” e Que venha teu Reino Senhor...”.

Na verdade para que o Reino de Deus possa se concretizar ele precisa acontecer primeiro em mim, depois ao meu redor e então no mundo, assim o “Eis-me aqui envia-me”  me da a liberdade de ouvir o chamado de Deus e me colocar a disposição para ajudar na realização do Reino.  Em grande parte da minha vida, venho fazendo essa experiência da disponibilidade e assim me sinto envolvida com as Graças de Deus.

Meu primeiro contato com esse sonho de se ter um projeto social em Fortaleza, que seria da Ordem dos Recoletos ou apoiado por eles aconteceu em 2006, através da Inês Parrondo Ordunã, uma pessoa que amei conhecer e conviver.

Em meio a um turbilhão de acontecimentos surge essa criatura falando de um lugar distante (mesmo sendo no Brasil), que tinha em seu contexto social particularidade inquietante.  Um mês morando comigo partilhando à vida, os sonhos, as dificuldades e pronto já fiquei interessada em conhecer essa realidade. Mas na verdade em minha vida tudo é mais ou menos assim:  me interesso pelas coisas, me apaixono pela possibilidade de se viver experiências, porém me tranqüilizou no agir de Deus.

Bem o tempo se passou e sempre estava acompanhando as evoluções do sonho do projeto de Fortaleza, cada fase, cada regresso ou progresso, conhecendo os objetivos, a clientela a ser atendida, o espaço geográfico a ser construído e tudo mais.  Em um determinado momento dessa bela história chega um convite: “ o Lar Santa Monica  irá precisar de uma psicóloga, vou sugerir seu nome para a Ordem, você aceita?”

De imediato fiquei encantada com a proposta, afinal conhecia os Agostinianos Recoletos da missão de Tapauá no Amazonas, foram oito anos trabalhando juntos nas diversas pastorais e colaborando também no Centro Esperança, diria que uma ótima convivência.  Mas pensei: Meu Deus acabei de sair de uma longa missão no Amazonas, agora que estou mais próximo de casa vou embora de novo? 

Na verdade esse questionamento durou segundos, só pensei na minha frase: Eis me aqui envia-me...se for da Sua vontade estou disponível, mesmo sem conhecer a cidade de Fortaleza e tampouco conhecer qualquer pessoa que ali vive.

Fiquei muito feliz quando recebi um e-mail dizendo que estavam me esperando como se espera a água no Nordeste... Essa frase foi muito significativa, afinal a realidade da seca nesse chão é muito complicada e a água chega como sinal de vida, não uma vida nova porque ela já existe, mas algo que chega trazendo esperança. E esse era o meu desejo, contribuir para gerar mais esperança, mais vida, mais sonhos para pequenos seres tão necessitados de novas perspectivas de novos horizontes. Eu já gostava de tudo que vinha acompanhando a distancia, já estava em processo de vivenciar um grande amor, mas  sentia que ainda faltava algo, pois verdadeiramente não se ama aquilo que não se conheço. E eis que surge algo muito lindo. Na minha chegada ao aeroporto em Fortaleza, sem conhecer nada e ninguém, literalmente sem saber o que me esperava ou quem me esperava, verifiquei que tinha alguém diferente e senti que era a pessoa que estava me esperando( algo de sintonia, talvez), arrisquei um sorriso e fui correspondida...Que bom, era o Frei Alberto.... Minha felicidade logo em seguida foi completa, todas as meninas atendida pelo Lar Santa Monica apareceram como do nada, correndo pelo saguão do aeroporto e ai foi uma festa, abraços – beijos, sorrisos e creio que nesse momento se deu inicio a  uma linda história de amor  que cresce a cada dia, na medida em que vou conhecendo mais e mais cada uma delas.

Esses quase três meses de convivência no LSM me fazem pensar como é importante ter um espaço que acolhe, cuida, promove e defende a vida.  Com certeza o nosso projeto faz a diferença, ou seja, a equipe de trabalho é uma segunda família para essas meninas que estão no abrigo, e todos somos seres humanos que acredito sermos vocacionados ao chamado de Deus, atendendo ao apelo de ir onde precisam de nós e em muitos casos nos lugares que outras pessoas jamais gostariam de estar.

Percebi que o  LSM tem o compromisso de oferecer medidas que garanta a qualidade de vida das crianças sejam em termos de suprir as necessidades básicas (moradia,alimentação,segurança...), como o desenvolvimento das demais dimensões humanas( física, psíquica e espiritual). Trabalhando sempre a questão da confiança, o compartilhar as responsabilidades, promover uma escuta amorosa facilitando a abertura para o diálogo, realizando correções dentro da compreensão de uma necessidade de se estabelecer regras e limites que muitas vezes nunca fizeram parte da vida dessas crianças.

Sabemos que as meninas que estão conosco e as que a nós se achegarem terão sempre ferimentos no corpo e na alma e que no caminho de suas vidas foram feitos muitos desvios, que geraram muitas perdas, e trazer essas meninas de volta a uma caminhada rumo ao seu convívio familiar e social de uma forma tranqüila, será muito difícil e em alguns casos impossíveis. Porém o que torna o trabalho do LSM desafiador e apaixonante é ter a oportunidade de defender as meninas e ao mesmo tempo promover as famílias, buscando assim manter o vinculo familiar. Esses processos requerem de nós horas de trabalhos, às vezes sendo detetives em busca de pais que nunca mais apareceram e que foram perdidos os contatos, devido anos de convivência das meninas em outros abrigos. Outras vezes tendo audiências com juízes e promotores tendo passado dias e dias indo ao fórum. Muitas vezes fazendo visitas a endereços longínquos que se demora a manhã toda para localizar e ainda nos deparamos com realidades que certamente é de cortar o coração e de se pensar “Senhor o que fazer com essa família e com a criança que está conosco.”  E tudo isso tendo o agravante de muitas vezes não poder contar com o apoio dos órgãos públicos, a chamada rede de proteção, que deveriam trabalhar em parceria com as entidades, mas que na verdade não faz.

Acredito que os Freis Agostinianos são peças fundamentais na vida dessas meninas, isso em todos os aspectos e um em especial, o de ser figura masculina positiva na história de vida dessas meninas. Na verdade os homens aos quais essas e outras meninas que vão chegar tiveram contato foram pessoas que só trouxeram desespero, abandono, desprazer, medo, violência e uma séria de sentimentos e sensações que as deixaram destroçadas. E eles assim como a figura do educador social trazem uma nova perspectiva de conviver com o sexo oposto, tendo neles exemplo de compreensão, carinho, respeito e cuidado. Tudo isso irá fazer com que as mesmas possam refazer seus conceitos e assim manter relações futuras mais saudáveis.

Creio que poderia escrever páginas e páginas sobre essa tão rica missão e essa tão linda história de amor que ainda está no inicio isso porque o LSM ainda é um bebê que está iniciando a engatinhar e assim ainda está sentido a sensação de ganhar espaço e o mundo, no sentido que quase tudo ainda esta por fazer, e o gostoso e o que nos dá animo é que juntos vamos aprendendo e construindo essa história. História essa que não é minha, nem dos educadores, da mãe social, das crianças, da Ordem dos Agostinianos Recoletos, dos voluntários, colaboradores e outros. Na verdade fazem parte todos as pessoas que sentem e acreditam serem  filhos de Deus, que sabem e querem defender e promover aqueles que Ele mais ama, podemos dizer que o Pai hoje diria “Quem acolhe uma dessas pequeninas tão violentadas pela vida, a mim acolhe...”

Assim sendo cada um pode responder: “Eis me aqui envia-me”..., na certeza que o chamado pode ser agora, e que jamais podemos deixar a Graça de Deus passar pela nossa vida, pois ela poderá jamais retornar.